Mastite em Vacas Leiteiras: Como Proteger Seu Rebanho e Aumentar a Lucratividade

March 16, 2025

Estratégias comprovadas para prevenir, diagnosticar e tratar a doença que ameaça a produção de leite


  1. Causas, tipos e sinais de alerta para mastite
  2. Quanto essa doença custa ao produtor?
  3. Prevenção da mastite na prática
  4. Tratamentos eficazes e os riscos da resistência a antibióticos
  5. Políticas públicas e certificações para qualidade do leite

1. Entendendo a mastite: causas, tipos e sinais de alerta

A mastite é uma inflamação do úbere das vacas, principalmente causada por bactérias como Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae e coliformes. Ela se divide em clínica (com sintomas visíveis, como inchaço, vermelhidão e leite com grumos) e subclínica (sem sinais aparentes, mas com queda na produção e aumento de células somáticas). A contaminação ocorre durante a ordenha, por falhas na higiene das mãos, equipamentos ou ambiente, ou até por feridas no úbere que facilitam a entrada de microrganismos.

Vacas com sistema imunológico fraco, estresse térmico ou má nutrição são mais suscetíveis. A mastite subclínica é a mais preocupante, pois pode afetar até 40% do rebanho sem que o produtor perceba, reduzindo a produção de leite em 10 a 25%. Exames como a Contagem de Células Somáticas (CCS) e o California Mastitis Test (CMT) são essenciais para detectar precocemente a doença. Ignorar esses sinais pode levar a danos permanentes no úbere e até à descarte precoce do animal.

Além das bactérias, fatores ambientais contribuem para a mastite. Camas úmidas, falta de ventilação no estábulo e superlotação aumentam o risco. A doença também pode ser contagiosa: vacas infectadas transmitem bactérias para outras através do contato com equipamentos de ordenha não higienizados. Por isso, a identificação rápida e o isolamento de animais doentes são fundamentais.

2. Impacto econômico: quanto a doença custa ao produtor?

A mastite é a enfermidade que mais gera prejuízos na pecuária leiteira. Cada caso clínico custa, em média, R$ 300 a R$ 500 por vaca, incluindo gastos com medicamentos, descarte de leite e perda produtiva. Na forma subclínica, a redução na produção pode passar despercebida, mas um rebanho com CCS acima de 200.000 células/ml perde até 6% da receita mensal. No Brasil, estima-se que a doença cause perdas anuais de R$ 4 bilhões.

Além dos custos diretos, há impactos indiretos. Vacas com mastite crônica têm menor vida útil e maior risco de abortos. O leite contaminado também afeta a qualidade dos derivados, como queijos e iogurtes, levando a multas de laticínios ou rejeição do produto. Propriedades sem controle sanitário ficam excluídas de mercados premium, que pagam até 20% a mais por leite de alta qualidade.

Para piorar, surtos recorrentes mancham a reputação da fazenda, dificultando parcerias com cooperativas e indústrias. Em casos extremos, a mastite pode levar ao fechamento de pequenas propriedades. Investir em prevenção não é um custo, mas um seguro para a sustentabilidade do negócio.

3. Prevenção na prática: higiene, manejo e tecnologia

A prevenção começa com higiene rigorosa na ordenha: lavar as mãos com água e sabão, desinfetar tetas antes e após a ordenha (pré e pós-dipping) e limpar equipamentos com soluções específicas após cada uso. A ordenha manual exige atenção redobrada, pois o contato direto aumenta o risco de contaminação. Usar luvas descartáveis e separar vacas infectadas durante a ordenha são práticas simples que reduzem a transmissão.

Melhorar o ambiente das vacas é igualmente importante. Camas de areia ou serragem seca, sombreamento no pasto e ventilação adequada no estábulo diminuem o estresse térmico e a proliferação de bactérias. Vacas confortáveis têm sistema imunológico mais forte. Além disso, evitar superlotação e garantir acesso a água limpa e dieta balanceada reforçam a saúde do rebanho.
Tecnologias acessíveis também ajudam:
  • Teste CMT: identifica mastite subclínica em minutos, com baixo custo.
  • Ordenhadeiras com registro individual: monitoram a produção de cada vaca e alertam para quedas súbitas.
  • Apps de gestão: armazenam histórico de saúde do rebanho e lembram datas de vacinação e exames.

4. Tratamentos eficazes e os riscos da resistência a antibióticos

O tratamento convencional usa antibióticos, mas seu uso excessivo tem gerado bactérias resistentes, como Staphylococcus MRSA. Por isso, é essencial realizar antibiogramas (testes de sensibilidade) antes de escolher o medicamento. Aplicar doses incorretas ou interromper o tratamento precocemente piora a resistência e deixa resíduos no leite, o que inviabiliza sua venda.

Alternativas naturais ganham espaço: probióticos na alimentação reforçam a microbiota das vacas, e óleos essenciais (como o de orégano) têm ação antibacteriana. Terapias como a secagem terapêutica (aplicação de antibióticos apenas no fim da lactação) reduzem o risco de novas infecções. Em casos graves, a descorna da vaca é necessária para proteger o restante do rebanho.

A terapia de secagem seletiva é outra estratégia: só vacas com mastite recebem antibióticos no período seco, preservando a eficácia dos medicamentos. Essa abordagem também atende às exigências de mercados internacionais, que rejeitam leite com resíduos químicos.

5. Políticas públicas e certificações para qualidade do leite

O Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite (PNQL), do MAPA, estabelece padrões rigorosos para CCS (máximo de 500.000 células/ml) e Contagem Bacteriana Total (CBT). Propriedades que seguem as normas recebem bonificações no preço do leite e acesso a linhas de crédito rural com juros reduzidos. Aderir ao programa é obrigatório para quem exporta ou fornece para grandes laticínios.

Cooperativas oferecem treinamentos gratuitos sobre boas práticas, como a correta higienização de equipamentos e manejo pós-ordenha. Já certificações como Leite Sustentável ou Bem-Estar Animal agregam valor ao produto, permitindo vender para redes de supermercados premium e programas governamentais como o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar).
O produtor também pode contar com apoio de instituições como a EMBRAPA, que disponibiliza cartilhas e cursos online sobre controle de mastite. Integrar-se a essas iniciativas não só melhora a rentabilidade, como fortalece a imagem do setor lácteo brasileiro no exterior.

A mastite exige atenção constante, mas com práticas preventivas, tratamentos responsáveis e adesão a políticas públicas, é possível reduzir seus impactos. Um rebanho saudável significa leite de qualidade, maior competitividade e lucro sustentável. Invista em conhecimento, tecnologia e parcerias: sua propriedade e o mercado agradecem!


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Fonte:
ACOSTA, Atzel Candido et al. Mastites em ruminantes no Brasil. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 36, n. 07, p. 565-573, 2016.
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