Rebanho Bovino em Alerta: Como Proteger Seu Gado das Ondas de Calor no Brasil

March 2, 2025

Altas temperaturas impactam a produtividade e saúde dos animais; saiba quais estratégias adotar para minimizar perdas e garantir o bem-estar do rebanho

  1. Impacto do calor extremo no gado de corte
  2. Hidratação: uma das chaves para evitar estresse térmico
  3. Sombreamento e conforto térmico: estruturas que fazem a diferença
  4. Ajustes na alimentação para dias mais quentes
  5. Manejo adequado evita estresse adicional
  6. Monitoramento sanitário: sinais de alerta e prevenção

1. Impacto do calor extremo no gado de corte

As recentes ondas de calor no Brasil, com temperaturas superando 40°C em regiões como o Centro-Oeste e Sudeste, têm pressionado não apenas os produtores, mas também os rebanhos. O gado bovino é particularmente sensível ao estresse térmico, que ocorre quando a temperatura corporal ultrapassa 39°C, afetando funções metabólicas básicas. Isso resulta em redução do consumo de alimentos, queda na conversão alimentar e, consequentemente, perda de peso e produtividade.

Além dos prejuízos econômicos, o calor excessivo compromete a imunidade dos animais, aumentando a predisposição a doenças como mastite e problemas respiratórios. Vacas prenhes, por exemplo, podem sofrer abortos ou ter bezerros mais fracos. Para piorar, raças europeias (como Angus e Hereford), comuns em cruzamentos industriais, são menos adaptadas ao clima tropical, exigindo atenção redobrada.

O primeiro passo para mitigar esses efeitos é reconhecer os sinais de estresse: respiração ofegante, salivação excessiva, redução de movimentos e aglomeração em áreas sombreadas. Ignorar esses sinais pode levar a mortalidade em casos extremos, especialmente em lotes confinados ou transportados sob sol intenso.

2. Hidratação: uma das chaves para evitar estresse térmico

A água é o recurso mais crítico durante períodos de calor. Um bovino adulto pode consumir até 100 litros diários em dias muito quentes, volume que dobra para vacas em lactação. Por isso, é essencial garantir acesso ilimitado a água limpa e fresca, distribuindo bebedouros estratégicos em áreas de sombra e pontos de manejo.

A qualidade da água também merece atenção: altas temperaturas aceleram a proliferação de algas e bactérias em reservatórios abertos. Limpeza periódica e cloração são medidas simples que evitam contaminações. Para reforçar a hidratação, produtores podem adicionar eletrólitos à água, repondo sais minerais perdidos pelo suor e respiração.

Em propriedades com escassez hídrica, tecnologias como sistemas de armazenamento de água da chuva ou georreferenciamento de nascentes ajudam a planejar o abastecimento. Lembre-se: um animal desidratado reduz em até 30% seu consumo de matéria seca, impactando diretamente o ganho de peso.

3. Sombreamento e conforto térmico: estruturas que fazem a diferença

O sombreamento natural, como árvores dispersas em pastagens, é a solução mais econômica, mas muitas vezes insuficiente em áreas desmatadas. Nesses casos, investir em sombras artificiais — como telas termorefletoras ou galpões ventilados — é crucial. A altura ideal das estruturas deve ser de 3 a 4 metros para permitir a circulação de ar.

Ventiladores e aspersores são alternativas eficazes em confinamentos. Pesquisas da Embrapa mostram que aspersores ligados intermitentemente (15 minutos a cada hora) reduzem a temperatura superficial do gado em até 5°C. Já a ventilação forçada diminui a concentração de umidade, prevenindo doenças de casco.

Para pastagens, evite lotações excessivas. Superpopulação em áreas sombreadas aumenta a competição por espaço e eleva o estresse. O ideal é disponibilizar 4 a 6 m² de sombra por animal, garantindo que todos tenham acesso sem conflitos.

4. Ajustes na alimentação para dias mais quentes

O calor reduz o apetite do gado, especialmente no período da tarde. Para contornar isso, ajuste os horários de fornecimento de ração concentrada para início da manhã ou final do dia, quando as temperaturas são mais amenas. Priorize alimentos de alta digestibilidade, como silagem de milho ou capim-elefante, que demandam menos energia para metabolização.

Suplementos com vitaminas do complexo B (como niacina) ajudam a melhorar a termorregulação. Aditivos à base de leveduras também são recomendados, pois equilibram o pH ruminal, prejudicado pelo estresse térmico. Evite excesso de fibras na dieta, que geram mais calor durante a digestão.

Em sistemas a pasto, assegure que a vegetação não esteja demasiadamente fibrosa ou seca. O capim ressecado exige maior esforço de mastigação e aumenta a produção de calor interno. Rotacionar pastagens e irrigar áreas estratégicas mantém a qualidade do pasto.

5. Manejo adequado evita estresse adicional

Práticas de manejo como vacinação, transporte ou embarque devem ser realizadas nas primeiras horas do dia, antes das 10h, ou no final da tarde. Manipular o gado sob sol forte eleva o risco de choque térmico e piora o desconforto, reduzindo a eficiência das atividades.

Até mesmo a pesagem ou troca de lotes devem ser planejadas com cuidado. Utilize brete coberto e jamais deixe animais presos em caminhões ou currais sem ventilação. Treine a equipe para trabalhar com calma, evitando gritos ou pressa, que agitam ainda mais o rebanho.

Em viagens longas, aumente o número de paradas para verificar água e ventilação. A legislação brasileira exige intervalos máximos de 14 horas de transporte, mas em dias extremamente quentes, esse período deve ser reduzido pela metade.

6. Monitoramento sanitário: sinais de alerta e prevenção

O calor intenso acelera a proliferação de parasitas e vetores. Mosquitos e carrapatos encontram condições ideais para se reproduzir, aumentando casos de doenças como babesiose e anaplasmose. Redobre o controle com carrapaticidas e mantenha o calendário sanitário em dia.

Fique atento a sintomas como mucosas congestionadas, diarreia ou falta de apetite prolongada. Bovinos com focinho seco ou olhos fundos podem indicar desidratação severa — nesses casos, a hidratação intravenosa é emergencial. Vacas leiteiras merecem monitoramento extra: a produção de leite cai drasticamente sob estresse térmico, e o risco de mastite subclínica aumenta.

Invista em tecnologias como colares sensores de temperatura ou sistemas de câmeras térmicas, que identificam precocemente animais em risco. Parcerias com veterinários locais para check-ups periódicos também são estratégias que garantem respostas rápidas a crises.

As mudanças climáticas exigem adaptação contínua do pecuarista brasileiro. Implementar medidas simples, como garantir sombra, água de qualidade e manejo estratégico, não só protege o rebanho das ondas de calor, como mantém a lucratividade da atividade. Lembre-se: gado confortável é sinônimo de produtividade sustentável. Invista no bem-estar do seu rebanho e colha os resultados mesmo sob sol intenso.


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Fonte:
Milkpoint
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